Enquanto filha de um maratonista que vive e adora o atletismo, sempre acompanhei de perto as maratonas. É comum lá em casa ouvir "Vamos passar o fim de semana a Espanha? Há lá uma maratona" ou "Liga a net e vê como está a correr a maratona de x, há um amigo meu lá". Quando fui ver o meu pai a correr a primeira maratona dele nunca mais fiquei sossegada. Sempre que ele se aventura numa, tenho de o acompanhar. Sou a moralizadora. Eu é mãos de plástica insuportáveis, faixas em amarelo florescente, camisolas estampadas.. Todo um rol de material que serve para o incentivar.
Não consigo sossegar enquanto não o vejo a traçar a meta! E ufa, já está mais uma!
Uma das vezes fui voluntária na Maratona do Porto e lembro-me des estar junto à meta e de um senhor já aí com os seus 60 e alguns anos estar prestes a desistir. Faltavam-lhe menos de 30 metros e ele estava já parado, a olhar para a meta e a olhar para o lado, o corpo já não aguentava. Sabia o que o meu Pai faria e fiz também. Abracei-o e disse que ali ninguém desiste. Fui com ele a passo até perto da meta, deixei-o lá e ele acabou a prova. Era um objectivo dele. Conseguiu! Passado uns 30 minutos o senhor aproximou-se de mim e deu-me um gigante abraço, acompanhado de um"obrigado menina! Andei a treinar meses e se não fosse a menina não tinha terminado." Valeu-me para o resto da vida. Passaram uma série de anos. Nunca me esqueci. Não me vou esquecer!
Admiro todos os que cortam a meta, com maior ou menos esforço, com maior ou menor ânimo. Já vi pessoas a cortarem a meta sem forças ou com o maior sorriso do mundo. Já vi invisuais com um guia, pessoas sem braços, homens e mulheres, mais novos ou mais velhos, alguns de ténis na mão, outras de mão dada a familiares.
Desta vez o meu pai agarrou-me a mão e quis que fosse com ele. Foram 20 metros e um abraço gigante no final.
Vale sempre a pena ver alguém realizar mais um sonho. É tão bom!